Red: Crescer é uma Fera e a Sombra em Nós

“As pessoas têm diversos lados, e alguns deles são confusos. O ponto não é afastar as coisas ruins, mas abrir espaço pra elas.”

Ahh a adolescência… esse período tão emocionantemente confuso das nossas vidas (não que a vida adulta seja melhor, talvez aprendemos a fingir bem), quando de um dia pro outro parece que não sabemos mais quem somos. Muitos sentimentos diferentes brotam, e é como se, de repente, fôssemos tomadas por um panda enlouquecido.

Se identificou? Pois essa é a história da Mei Lee, a protagonista de Red: Crescer é uma Fera. Eu fiquei encantada pelo modo com que sua transformação foi contada no filme, de uma forma tão poética, como se a metáfora da sua “fera” pudesse servir para muitas de nós.

Um dia, Mei acorda transformada em um panda. Embora o filme não fale especificamente da menarca, eu acredito que o fato de escolherem o panda vermelho faz referência à sua primeira menstruação, esse rito de passagem. Os cabelos dela agora também são vermelhos, apontando esse momento da vida em que nada mais será como antes.

(Alerta de spoiler)

O panda vermelho surge pra escancarar o que até então estava despercebido. Começam a aparecer emoções estranhas, diferentes daquelas conhecidas pela pequena Mei. O desejo por meninos, a importância das amizades, a necessidade de reconhecimento. Tudo começa a querer aparecer e se expressar. Num primeiro momento, a menina e sua família tentam esconder. Afinal, para as mães e pais, e até para as jovens, crescer é difícil.

A sombra que todas carregam dentro de si começa a se tornar mais presente. Como dizem os autores da psicologia analítica descrita por Carl Jung, percebemos que temos sentimentos e pensamentos que não combinam com o que nossas mães, pais, familiares esperam de nós. Esses sentimentos vão sendo colocados em uma sacola oculta, que carregamos sem perceber.

Quem somos nós? Somos pandas vermelhos andando por aí, muitas vezes nos escondendo até de nós mesmas. E como é difícil aprender a lidar com tudo que brota de dentro de nós! É um aprendizado pra toda vida, que se torna mais significativo na adolescência. Nesse momento de transformação, dependendo de como fomos acolhidas e confirmadas em nossos sentimentos e emoções, poderemos nos tornar pessoas mais integradas e conscientes de nós mesmas.

“Honrar seus pais parece ótimo, mas se levar a sério demais, pode acabar não honrando a si mesma.”

No filme, a bênção do panda valente, da mulher forte, pode ser confundida com uma maldição. Como é difícil para as mulheres da família lidarem com seus próprios pandas, e como é lindo ver que quando uma delas escolhe um novo caminho, ela ensina as que vieram antes, e liberta as que vierem depois.

E então a mágica acontece. No momento do ritual, ela toca o panda, pois o panda também é ela. Ela leva sua mãe pela mão, e entende que a história das mulheres da sua família não é a sua história. Ela acolhe seu panda como uma parte de si, que merece ser honrada e integrada. Conhecer a nós mesmas, reconhecer nossas emoções, abrir nosso coração para que fluam, compreender e nos aceitar. Esse é o caminho.

 
“Todos temos nossas feras interiores, uma parte complicada, barulhenta e estranha escondida dentro de cada um, e muitos de nós nunca deixa ela sair. Mas eu deixei. E você?”

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